16/02/2013

BLOG XIQUESAMPA CULTURAL: ESPECIAL SOBRE OS 20 ANOS DA PEREGRINAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO .

Acompanhando os largos passos do bispo Dom Luiz Cappio na sinuosa trilha na Serra da Canastra, seguia a ofegante peregrinação para reencontrar o coração de um rio ferido .

Entre os dias 10 e 12 de outubro de 2012 várias atividades realizadas em Minas Gerais ajudaram a relembrar os 20 anos da Peregrinação da Nascente à Foz do São Francisco, mobilização realizada entre outubro de 1992 e outubro de 1993, em defesa do rio São Francisco, por quatro peregrinos: Frei Luiz Cappio, franciscano da região da Barra (BA), Adriano Martins, sociólogo e ambientalista, Orlando Araújo, lavrador e garimpeiro e a Ir. Conceição Menezes, religiosa franciscana.

Em  busca de um rio e sua gente: Em 1991, um grupo de pessoas engajadas na luta pela preservação do Rio São Francisco buscava uma forma de envolver nesta luta as comunidades ribeirinhas, as mais atingidas pela degradação assustadora do Rio. Mesmo sendo vital para a sobrevivência de milhões de pessoas e uma infinidade de animais e plantas, o Rio vinha sofrendo, nas últimas décadas, as consequências da implantação de um modelo de desenvolvimento humana e ecologicamente insustentável. Um processo que desde então só tem se agravado. Em junho de 1990, artistas e ambientalistas fizeram uma viagem de mobilização eco-cultural nas ribeiras do São Francisco entre Xique-Xique-BA e Pirapora-MG. Daí nasceu a Associação pra Barca Andar, organização pioneira no esforço mais permanente de juntar pessoas e entidades na defesa do Rio entre Minas e Bahia. Mas durou pouco, até 1995 .

E a situação do rio agravada carecia de um movimento maior. Foi aí que Frei Luiz Cappio, franciscano da região da Barra (BA), Adriano Martins, sociólogo e ambientalista, Orlando Araújo, lavrador e garimpeiro e a Ir. Conceição Menezes, religiosa franciscana, juntaram-se e empreenderam a “Peregrinação no Rio São Francisco”, da nascente à foz. Caminharam pelas barrancas, ilhas, povoados e cidades do “Velho Chico”, entre 4 de outubro de 1992 e 4 de outubro de 1993, dia de São Francisco e do “batismo” pelos colonizadores portugueses do Rio que era o “Opara” dos índios.

Encontro com e entre as comunidades: Com a imagem de São Francisco Peregrino passando de mão em mão, a caminhada de um ano inteiro visitou 350 comunidades ribeirinhas e promoveu o encontro entre elas, ao longo dos 2.863 km de extensão do Velho Chico, considerado o “Rio da Unidade Nacional” no discurso oficial. Foi uma resposta ao clamor do Rio, da vida que o anima e estava sob risco. Resposta a uma situação-limite, em que o São Francisco se encontra,  ameaçado na sua condição de gerador de vida para milhões de brasileiros e um sem número de espécies da fauna e da flora. A motivação central desta Peregrinação franciscana  no espírito do Rio e do Santo  foi a de sensibilizar e mobilizar as comunidades locais para a preservação do Rio, em especial as mais pobres, que mais precisam dele, e provocar os que mais têm poder, sobre sua vida e sua  morte. Um ano e meio de contatos e entendimentos com as 97 paróquias, 16 dioceses e cerca de 300 entidades populares atuan-tes no Vale do São Francisco preparou a Peregrinação. Foram desenvolvidas variadas atividades: 737 celebrações; 464 encontros com estudantes e professores; 296 com grupos específicos (crianças, jovens, sindicatos, colônias de pescadores, grupos ecológicos, povos indígenas); 46 com Câmaras de Vereadores; 35 com Prefeituras Municipais, 15 com empresas; e um sem número de entrevistas para emissoras de rádio, canais de televisão e jornais . 

Milhares de árvores foram plantadas como gesto simbólico do “gole d'água” dado ao Rio em retribuição às tantas “bençãos” que ele dá. A Peregrinação mexeu tanto com o povo como com as autoridades. Uns e outros são levados a reconhecer a situação alarmante de degradação do Rio. Nasce a expressão "revitalização do rio São Francisco" para dizer de uma necessidade imperiosa afirmada pelo povo e, a partir daí, uma pauta política relevante no país. Em 1999, um seminário promovido pelo Regional Nordeste 3 da CNBB, em Salvador (BA),  consagrou definitivamente a expressão, numa cobrança inescapável: “TRANSPOSIÇÃO NÃO, REVITALIZAÇÃO SIM!”. 

Sobre a Peregrinação: A Peregrinação é considerada a maior mobilização ecológica/religiosa em defesa do rio São Francisco, sendo realizada entre outubro de 1992 e outubro de 1993, por quatro peregrinos: Dom Luiz Cappio, Adriano Martins, Orlando Araújo e Irmã Conceição Menezes, mobilizando 350 comunidades nos 2.863 km de percurso do rio São Francisco. Muitas iniciativas surgiram durante e depois do evento, por ela motivadas: plantios de árvore, preservação de nascentes e matas em propriedades particulares e comunitárias, mutirões de limpeza da beira do Rio, programas de educação ambiental e semanas ecológicas nas escolas, mutirões de arborização das cidades. A Peregrinação foi motivada, na época, pela alarmante degradação do rio e foi uma das primeiras mobilizações organizadas em defesa do Velho Chico. Passados 20 anos, a degradação que impulsionou os peregrinos agravou-se. O rio São Francisco perdeu 35% da sua vazão nos últimos cinquenta anos e passou a sofrer com a construção de empreendimentos econômicos que tem degradado ainda mais o rio. Recentemente, pesquisadores da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) divulgaram uma pesquisa alertando para a extinção da caatinga e as consequências para o Rio, que segundo eles, corre o risco de ser extinto se a degradação continuar nesse ritmo. 

Dom Luiz Cappio: Dom Luiz convive há mais de 30 anos com os problemas do Vale do São Francisco e, por duas vezes, ofereceu a sua vida em defesa do rio e das comunidades que vivem do Velho Chico. Em setembro de 2005, o bispo de Barra iniciou uma greve de fome que durou cerca de 11 dias, pela não realização da Transposição e pela Revitalização do rio São Francisco. Em 2007, depois do não cumprimento da promessa do governo Lula de promover debates sobre a transposição, de discutir as alternativas propostas pelo Atlas do Nordeste e de promover a revitalização do rio, Dom Cappio retomou a greve de fome que durou, dessa vez, 24 dias. Em 2007 D. Luiz foi premiado pela Pax Christi International, organização criada em 1945, para promover direitos humanos. Em 2008, recebeu o Prêmio Kant de Cidadão do Mundo, na Alemanha. Seja no enfrentamento de um Projeto de Transposição imposto como falsa solução para a questão hídrica do Semiárido e em completa desatenção quanto ao estado de degradação do rio, seja na luta por uma inexistente Revitalização verdadeira do complexo de vida que é o Rio São Francisco, a Articulação tem marcado o cenário político e social-ambiental brasileiro .


FONTE: XIQUESAMPA, SÃO FRANCISCO VIVO E REMA ATLÂNTICO .

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