"Avisamos [à Rappi] que ele estava passando muito mal e a pergunta foi: 'então não vai poder finalizar nenhuma das próximas entregas?'", contou cliente que socorreu rapaz. Samu não apareceu e motorista de Uber se negou a levá-lo a hospital.
O entregador da Rappi Thiago de Jesus Dias, de 33 anos, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) na noite de sábado em Perdizes, zona oeste de São Paulo, e morreu no hospital quase 12 horas depois. Antes de chegar ao hospital, clientes tentaram socorrê-lo. Apesar da gravidade do caso, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgências), da prefeitura de São Paulo, foi acionado, mas não enviou nenhuma ambulância. Um motorista de Uber, segundo a irmã da vítima, Daiane de Jesus Dias, foi chamado, mas recusou-se a levá-lo ao hospital. As pessoas que o socorreram também usaram o celular para entrar em contato com a Rappi e falar da gravidade do caso do motoboy, mas a empresa apenas teria dito que era preciso dar baixa na viagem para não atrasar as outras entregas, segundo uma cliente do aplicativo que socorreu Thiago. Thiago foi levado ao Hospital das Clínicas por amigos que chegaram de carro ao local onde ele havia feito sua última entrega. Como não chegou de ambulância, Daiane contou que teve problemas em conseguir ser atendido, mas uma médica o socorreu.
Depois de ser levado para a UTI, Thiago sofreu morte encefálica confirmada na segunda-feira, às 9h35. Sua família doou seus órgãos e ele foi enterrado ontem. Revoltada, a família estuda processar Rappi, Samu e Uber por omissão de socorro. "Foram praticamente duas horas de espera para eu socorrê-lo. Eu cheguei em desespero, e quando eu chego, eu vejo ele lá que nem um cachorro na calçada", contou Daiane ao BuzzFeed News, em entrevista por telefone nesta quarta-feira (11). O caso de Thiago foi revelado nas redes sociais pela cliente e advogada Ana Luísa Pinto. Ela estava em casa com amigos, em Perdizes, quando foi chamada pelo motoboy para uma entrega de comida. Ao descer na entrada do prédio, a amiga de Ana Luísa que foi receber a entrega ouviu de Thiago que ele estava se sentindo mal, com muito frio e dor de cabeça. Segundo Ana Luísa, isso ocorreu entre 22h e 22h30. O motoboy começou a vomitar e perdeu a consciência. Antes de apagar, Thiago fez dois pedidos: que ligassem para sua irmã e que avisassem a Rappi. Um dos amigos de Ana Luísa entrou em contato com a empresa pelo aplicativo instalado no próprio celular do motoboy. "Avisamos que ele estava passando muito mal e a pergunta foi: 'então não vai poder finalizar nenhuma das próximas entregas?'", contou Ana Luísa.
Ela e seus amigos telefonaram várias vezes para o Samu, mas nenhuma ambulância chegou. Ana Luísa contou que colocou cobertores em Thiago e tentou ajudá-lo. Eles ligaram também para o celular de Daiane, a irmã do entregador, em Pirituba, zona norte de São Paulo. "Eles não me contaram como era grave, mas eu ouvi eles falando: 'Thiago, Thiago, fica comigo, Thiago'. Foi o pior momento da minha vida. Eu peguei um Uber e fui para lá. Liguei para o Samu, disseram que já tinha uma ocorrência aberta e que iam reforçar a urgência", diz Daiane. O primeiro telefonema de Daiane, que foi feito depois que os clientes da Rappi já tinham acionado o Samu, foi feito às 23:03. O serviço entrou em contato com ela 33 minutos depois, apesar de dizer que seria dada urgência à ocorrência.Nesse tempo de espera, a irmã do motoboy saiu de casa em Pirituba (zona norte) e foi até Perdizes de Uber, numa viagem de 12 quilômetros. Ela chegou a Perdizes às 22h43. Depois, ainda levou o irmão para o hospital até receber o telefonema do Samu.
Depois que um motorista de Uber se negou a levar Thiago, amigos dele que tinham sido acionados pela irmã chegaram de carro e o levaram até o Hospital das Clínicas."Liguei para o Samu, liguei para a polícia, liguei para os bombeiros e nada. O Uber se recusou a levar o meu irmão. Quando eu já estava no hospital, uma pessoa do Samu me ligou. Na verdade, eu xinguei tudo quanto é nome, disse que agora não precisava mais e desliguei." Thiago trabalhava como entregador de aplicativo havia pelo menos dois anos, segundo sua mãe, com quem ele morava em uma casa de três andares, divididos entre os irmãos. O entregador tinha uma menina de seis anos. "Ele e minha mãe moravam no último andar. Estavam reformando", disse Daiane. "Vou procurar os direitos para a filha dele. Por causa de negligência, por falta de socorro, ele acabou deixando uma filha de seis anos”, afirmou a irmã do motoboy. Daiane disse ainda que a Rappi não entrou em contato com a família. Rappi e Samu dizem que estão investigando caso. A Uber ainda não se manifestou e esse post será atualizado quando a empresa divulgar seu posicionamento.