29/04/2010

SÉRIE UM XIQUE-XIQUENSE PELO MUNDO !!! CONHEÇA O AUXILIAR DE NECRÓPSIA GILSON JÚNIOR .

A terça-feira começou turbulenta para o baiano Gilson Alves Santiago, de 47 anos. O telefone de sua casa tocou às 4h40 da madrugada e ele teve de pular da cama para dirigir-se ao trabalho no Instituto Médico Legal (IML), instalado nas dependências do Cemitério Montenegro. Naquela manhã, realizou três necropsias - sendo duas mortes naturais e uma ocasionada por acidente violento. Quando recebeu a equipe de reportagem, a sala de azulejos e pisos brancos, equipada com mesas de aço inox próprias para as autópsias, estava sendo lavada. No chão, ainda havia sangue e o cheiro forte impregnava o ar. Para quem não está acostumado, chega a embrulhar o estômago.

Assim que desligou o telefone, na administração, o simpático baiano traçou um sorriso nos lábios. De pronto, quis mostrar as reformas estruturais no local onde trabalha há 14 anos. E avisou: "Só não permitimos fotos da sala de necropsia". Gilson conduziu o bate-papo de forma descontraída, embora o ambiente trouxesse uma certa repulsa e até mesmo um calafrio ao organismo dos visitantes. Em instantes, chegou uma urna com o corpo de uma senhora de meia-idade, que precisaria de tanatopraxia - técnica de conservação do corpo. No caso dela, a face estava arroxeada - fenômeno conhecido como cianose - e seria necessária a drenagem de líquido do organismo para a cor natural ser restabelecida. Gilson vestiu rapidamente as luvas, o jaleco e a máscara para explicar - sobre o corpo daquela senhora - como seria o procedimento da tanatopraxia. Lá fora, a família inconformada com a morte aguardava o velório.

Rotina - Para o auxiliar de necrópsia, toda essa rotina é normal. No IML, só atua nas autópsias de corpos que tiveram morte violenta. Porém, o mais difícil para Gilson é lidar com a dor dos familiares. "Eu me dou bem nesse serviço e sinto que estou ajudando as pessoas. Para mim, é como se fosse um trabalho de assistência social porque lido com a dor de cada família; ouço várias histórias e acabo até chorando em alguns casos. No início, quando precisava fazer a necropsia de uma criança eu chorava demais. Hoje em dia me habituei ao trabalho, mas não digo que perdi a sensibilidade ou fiquei frio. É que estou mais concentrado em resolver o problema das famílias", afirma Gilson, que brincou muito de soltar pipa no Cemitério Montenegro quando criança e nunca imaginou um dia trabalhar no local.

Filho de Valdevino Alves Santiago e de Maria da Silva Santiago, Gilson nasceu em Xique-Xique (BA) e passou sua infância por lá. Veio morar em Jundiaí com os pais aos 6 anos de idade. Já adolescente, trabalhou em padaria, mas logo depois da maioridade foi para a área da saúde pública. Formou-se Técnico em Patologia Clínica e durante 11 anos trabalhou no laboratório de análises clínicas do Hospital São Vicente de Paulo. "Ali eu via muita gente morrer, principalmente vítimas de HIV. Ficava chocado com as mortes até que um dia me inscrevi no concurso para a área de necropsia. Passei e fui para o IML de São Paulo, onde fiquei três meses e me transferiram para Jundiaí", explica o moreno de olhos azuis.

Procedimentos - Segundo Gilson, necessitam de necropsia todos os corpos que não têm declaração de óbito e também os de mortes violentas - no caso de acidentes e homicídios. Além da autópsia, os técnicos do IML realizam a tanatopraxia e a restauração dos corpos - quando há deformidades ou mesmo ausência de pele. Os dois serviços não são oferecidos pelo município, como ocorre em Curitiba (PR), considerada modelo nos procedimentos do IML. Aqui ainda é preciso pagar pela técnica de restauração e conservação dos corpos. "Há familiares que não gostam de lacrar o caixão e, então, solicitam o serviço para poder ter uma última lembrança da pessoa no velório. Reconstituímos e maquiamos as áreas atingidas e deixamos o corpo perfeito", conta. Um dos momentos mais difíceis para Gilson, durante esses 14 anos em que está no IML, foi a execução da necropsia no corpo do médico José Roberto Asta Bussamara, seu amigo e companheiro de trabalho durante anos. Outro fato que o chocou foi a morte de Anelita Silva Silva, de 35 anos. Ela também era auxiliar de necrosia e dividia a sala com Gilson.

As crianças degoladas com uma serra elétrica pela mãe, em Jundiaí, também passaram pela sala do auxiliar. "Eu jamais vou esquecer aquela cena, de ver as crianças na situação em que ficaram", diz Gilson, agora sentado no banco do jardim em frente ao IML. O espaço foi criado em homenagem a Bussamara. A todo momento, alguém chega para pedir informações ao simpático moreno. Enquanto a entrevista transcorria na parte externa do instituto, mais um corpo chegou e, desta vez, precisaria apenas de maquiagem. Nessa profissão, Gilson tenta maquiar o que o destino já não pode mudar: a morte.

FONTE ANANEC/PAULA MESTRINEL . Esta notícia foi atualizada em 15/6/2008 .

2 comentários:

  1. Caro Adriano,gosto muito do Xiquesampa,acompanho
    quando possível,sou estou estranhando(pode ser
    falha de digitação)ver matérias anteriores tb ,
    é que está sendo escrita a palavra conheça,com Ch
    Desculpe-me,Abraço

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  2. CONCERTESA FALHA DE DIGITAÇÃO E É DIFICIL CORRIGIR LOGO DE CARA,SÓ DEPOIS QUE REPASSO O TEXTO SRRSRS,MAS JÁ CORRIGIR (CONHEÇA) RRSSRSRS,VALEU BARRETO.

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