Neste ano de 2019 a Diocese de Barra (BA) completará 106 anos de história. Desde 1913 muitas águas rolaram pelo São Francisco, muitos fatos marcaram o chão de suas ribanceiras. Tantas pessoas fizeram história neste chão deixando as marcas de sua passagem colaborando na organização do Povo de Deus nesses sertões baianos. Pela Bula “Maius Animarum Gonum” (Maior bem das Almas), de 20 de outubro de 1913, o Papa Pio X criou a Diocese de Barra. Foi desmembrada da Arquidiocese de Salvador. A nova Diocese se estendia desde Pernambuco até Minas Gerais, imenso território que deu origem a novas dioceses: Juazeiro, Bom Jesus da Lapa, Irecê e Barreiras. A criação da Diocese de Barra foi um fato novo, trazendo autonomia para o sertão que até então dependia em tudo da metrópole Salvador. Barra se tornou um centro regional. Seus bispos foram homens construtores de uma nova sociedade marcada pelo evangelho, fazendo a diferença diante da lógica dos coronéis, senhores da região tão assolada por brigas entre famílias, herança do cangaço. Esse fato deu novo rumo à História trazendo consequências em todos os campos.
Sociais: A valorização do ser humano - homens e mulheres - com sua riqueza e potencialidade que começou a ter vez e oportunidade de ser “gente” reconhecida e digna. A ação pastoral abriu espaço, defendeu os direitos, exigiu a atenção das autoridades para uma das regiões mais pobres e abandonadas do país.
Políticas: Barra tornou-se um centro onde as decisões regionais eram tomadas. O bispo tem a autoridade do Evangelho e convence pelo carisma que possui. Os poderes locais e temporais são questionados e o povo passa a ter vez e voz. Através das associações, movimentos, grupos organizados vai conquistando seu direito de participar, decidir, propor ações de cidadania.
Econômicas: A Diocese promoveu as “semanas ruralistas” que valorizaram os produtos e riquezas da terra, mostrando as potencialidades regionais, estimulando novos investimentos agropecuários e políticas públicas de desenvolvimento. Depois vieram as “semanas sociais”. A Diocese numa decisão profética distribuiu suas terras em projetos de colonização inteligentes, antecipando a reforma agrária do governo. Foi pioneira na campanha de implantação das cisternas para recolher as águas das chuvas.
Sanitárias: A erradicação da malária e a existência da SUCAM foram decisivamente alavancadas pela cidade e pela diocese de Barra. Seu primeiro bispo criou o SEM (Serviço de Erradicação da Malária), ideia abraçada pelo Ministério da Saúde que o transformou na SUCAM para todo o território nacional.
Culturais: Costumes, tradições e expressões culturais populares foram valorizados. Surgiu o jornal “Folha da Barra”, o Teatro São Pedro, Associações Culturais e de Arte (Cerâmica, esculturas em barro, bandas musicais, o Coral Santana, capoeira), tudo com o sábio estímulo dos seus pastores que descobriam na população a riqueza de suas expressões. Em 1985 foi aberta a Biblioteca no Palácio Episcopal e em 2012 ela foi adaptada e informatizada para as pessoas com necessidades especiais. É a primeira do gênero no sertão baiano.
Educacionais: a Diocese fez surgir novos espaços educacionais: o Seminário Diocesano na cidade de Juazeiro e o Colégio Santa Eufrásia na cidade de Barra, qualificando gerações de professores. O Colégio Cristo Rei hoje do Estado por décadas supriu a região com técnicos em contabilidade. A Escola Santo Afonso para a formação de agentes evangelizadores leigos e a Escola de Formação Missionária preparando missionários para as Comunidades. O Centro Educacional “Menino Jesus” atendendo a crianças especiais na cidade de Barra. Surgiram alternativas para crianças, adolescentes e jovens: o Projeto Sapeca m Oliveira dos Brejinhos, o Projeto Girassol em Ipupiara, o Centro Educacional Murialdo em Ibotirama, a Pastoral do Menor em Xique-Xique, o Projeto Crescer e Viver e Projeto Social da Obra Nova em Barra.
Religiosas: a Evangelização através das Comunidades - o centro da vida e das atividades diocesanas - foi reforçada com a ordenação de sacerdotes e a vinda de religiosos e leigos consagrados para a Diocese. Hoje são 11 paróquias, três pró-paróquias e uma rede de mais de 700 Comunidades. A preparação de lideranças e agentes para a animação pastoral fez surgir o Centro de Formação Diocesano Dom Joao Muniz e diversos centros comunitários paroquiais.
O tempo vai passando, cada pessoa deixa suas pegadas, construindo a história e trazendo mais vida. O sertão do Velho Chico ora lavado pelas enchentes, ora ressequido pela estiagem prolongada ou varrido pelos ventos do leste, sempre machucado pelo sol escaldante, também conta a sua história. História linda como o rosto moreno da sertaneja, triste como o mugido do gado sedento em meio à caatinga tórrida. História cheia de vida como o olhar da criança que brinca inocente sem perceber o desenrolar cruel de sua existência.
FONTE: BLOG CHÃO DA BARRA.